quarta-feira, 27 de abril de 2011

Deslembrar

Como era mesmo aquela música que o José cantava? Qual foi mesmo a primeira palavra que o Fran pronunciou? Minha memória prodigiosa, que guarda cenas da infância de meus irmãos, que pode repetir a entonação da avó já há tanto tempo ausente, que lembra cenas vividas desde os dois anos de idade, que decora com facilidade um texto, parece, está rareando. Talvez em meio a tantas outras demandas da vida, que uma vez que sejamos mães ou pais se multiplicam de forma assustadora, percebo que tenho esquecido mais do que gostaria. Pois, sim, esquecer também é bom. Nem tudo pode ser lembrado. Nem tudo deve ser lembrado. Ok.

Num caderninho que me acompanha (sempre vivi ao lado de um caderninho) está escrito: "deslembrar - José". Lembro que ele me disse em algum dia (esquecido), por alguma razão (esquecida) "ah, mãe, têm coisas que eu deslembro". Achei bonito, pensei que era um bom título pra alguma coisa, uma boa ideia pra alguma coisa. Mas também não sei mais para quê.

Então, José e Francisco, é o seguinte, há muitas coisas, muitas coisas, meus filhos, que eu não quero deslembrar. Principalmente, não quero deslembrar as belezas que ouço de vocês dois, as alegrias que nos proporcionam, para mim e para o pai de vocês, diariamente. Vou escrever o que eu puder, meus gurizinhos, pra guardar para nós. Para vocês. Para os filhos de vocês, se os tiverem. Até por que, eu tenho certeza, nenhuma história mais bela poderá jamais ser escrita por mim, se não esta, que fizemos acontecer todos os dias.

2 comentários:

  1. Não sei se eles vão chorar lendo este post. Só sei que eu chorei.
    E na carona das palavras bonitinhas que eles inventam, esses dias o João, muito puto da cara por causa de alguma negativa da mãe mandona, entrou na sala e me ameaçou: "Hoje não vai ter sicomportação."

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